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Mesa da Cura: remédios naturais encantam visitantes na comunidade São Miguel Autor: Katrine Bentes - Ascom Semtur

Mesa da Cura: remédios naturais encantam visitantes na comunidade São Miguel

Katrine Bentes
Publicado em - Atualizado
Garrafadas, chás, óleos e banhos feitos com plantas da floresta aliviam dores, inflamações e cólicas, além de promoverem a limpeza espiritual.

Localizada na margem direita do rio, na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no interior de Santarém (PA), a comunidade São Miguel oferece uma experiência turística que une saberes tradicionais às belezas naturais da Amazônia. Um dos destaques do roteiro é a Mesa da Cura, onde Dona Alzira da Silva, curandeira de 77 anos, comercializa preparados medicinais feitos com raízes, cipós, cascas e sementes da floresta. Entre os remédios estão garrafadas, chás, óleos, banhas e banhos, usados para tratar dores, inflamações, cólicas, sinusite, problemas de pele e também para promover a limpeza espiritual, incluindo o combate à “panemice”, termo popular que significa azar ou falta de sorte.

Nesse contexto, durante uma visita técnica da Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Semtur), a equipe conheceu de perto a comunidade e se encantou com a preservação dos conhecimentos ancestrais, um dos pilares do turismo de base comunitária. O objetivo foi mapear os atrativos locais e identificar formas de qualificar o acolhimento aos visitantes, por meio de capacitações e apoio a projetos de desenvolvimento.

 


Como parte dessa vivência, destaca-se a forma coletiva de organização. A venda dos remédios funciona em sistema de revezamento entre os moradores. Um dos representantes mais atuantes é Manoel da Silva, membro da associação local, responsável por recepcionar os visitantes e apresentar o uso de cada produto.

“O que mais vendemos é o pau-saratudo e a unha-de-gato. O pessoal também encomenda muitas garrafadas e banhos atrativos, principalmente para limpeza espiritual e para tirar a panemice”, conta Manoel.

 

Conheça algumas das plantas e compostos utilizados e suas finalidades:

Plantas medicinais

• Pau-Saratudo: anti-inflamatório usado contra tosse e gripe.

• Unha-de-Gato: cipó com ação anti-inflamatória, indicado para infecções urinárias e ginecológicas; também usado em banhos.

• Batimão (ou Barbatimão): recomendado para corrimentos e alterações uterinas.

• Sucuba: casca utilizada em chás contra dor de garganta e inflamações.

• Cumaru: base para xaropes usados em gripes e tosses.

• Pau de Angola: aplicado em banhos para aliviar sintomas gripais, especialmente ao final do dia.

• Canamança: utilizada em banhos de limpeza espiritual e retirada de “panemice” — expressão local para energias negativas.

• Cipó Pajé: usado em banhos para aliviar dores de cabeça.

• Raiz de Marupazinho: combate diarreias e melhora o funcionamento intestinal.

• Uxi Amarelo: anti-inflamatório natural com ação nos pulmões e intestinos.

 

Óleos e banhas

• Banha de Piquiá: reduz inchaços e alivia dores.

• Banha de Tartaruga: aplicada no rosto para tratar espinhas.

• Banha de Galinha: tradicionalmente colocada no nariz contra sinusite.

• Óleo de Mamona: indicado para dores musculares e de cabeça.

• Óleos de Andiroba e Cumaru: usados em massagens e no alívio de sintomas gripais.

 

Xaropes e misturas

• Xarope de Cumaru: preparado com mel, limão, hortelã, gengibre, alho roxo, própolis, óleo de pequi, eucalipto e sucupira — eficaz contra gripe, tosse e irritações respiratórias.

O roteiro inclui ainda uma visita à casa de Dona Alzira, que além de curandeira, atua como parteira. Ela aprendeu as práticas com a mãe, conhecida como “sacaca de nascência”, termo de origem tupi usado na Amazônia para designar curandeiras com saberes ancestrais ligados ao mundo espiritual.

Dona Alzira também é artesã. Produz peneiras, tipitis, colares de miçanga e peças decorativas, que ficam expostas no quiosque comunitário, ao lado dos remédios. Também confecciona cerâmicas e esculturas inspiradas na fauna local, como peixes, botos e o personagem folclórico “Curumim Tolo”.

 

Contudo, a experiência em São Miguel vai além da medicina tradicional. Os visitantes podem explorar trilhas ecológicas (inclusive noturnas), tomar banho em igarapés de águas cristalinas e dormir em redários coletivos protegidos por telas contra mosquitos.

 


As praias da região, como Ponta da Morena e Ponta Grande (acessível por travessia de barco), completam o passeio com paisagens deslumbrantes. Uma das tradições locais é a piracaia, peixe assado à beira do rio, em clima de confraternização entre moradores e visitantes.

 


A culinária regional também marca presença, com pratos típicos servidos no restaurante comunitário. À noite, a programação cultural valoriza os saberes locais com apresentações de carimbó autoral, músicas compostas pelos próprios moradores.

 


Oficinas práticas também integram o roteiro, com atividades como cerâmica, trançado de palha de tucumã, miçangas e tingimento natural de fibras vegetais. O artesanato, vendido no quiosque, retrata o cotidiano amazônico com utensílios tradicionais e figuras do imaginário ribeirinho, criadas pelo grupo Arte e Palha.

 


Com cerca de 800 moradores distribuídos em 102 famílias, São Miguel é uma comunidade estruturada, com Unidade Básica de Saúde, duas escolas e duas aldeias indígenas. Ali, a floresta ensina, cura, alimenta e acolhe, um destino onde tradição e sustentabilidade caminham lado a lado.

 


O acesso à comunidade é feito por via fluvial, em embarcações como barcos regionais ou lanchas rápidas. A distância média até Santarém é de 65 quilômetros, com trajeto que leva de 4 a 5 horas de barco ou entre 2h e 2h30 de lancha.

A melhor época para visitar São Miguel é durante o verão amazônico, quando surgem as praias de areias claras e paisagens paradisíacas. No entanto, mesmo na estação das cheias, a comunidade oferece ricas experiências culturais, gastronômicas e de contato com a natureza.

 

 

Durante a visita institucional, Manoel da Silva agradeceu a presença da Semtur e das equipes das agências locais.

“A visita da Prefeitura e de vocês das agências é importante pra valorizar o que a gente tem de mais precioso: nosso conhecimento, nosso jeito de viver e a força da nossa cultura. Sabemos do nosso potencial, mas precisamos de parceria pra melhorar nosso trabalho.”

O secretário municipal de Turismo, Emanuel Júlio Leite, enfatizou as belezas do turismo de base comunitária de São Miguel. 

“São Miguel é um exemplo vivo de como tradição e natureza podem andar juntas. Aqui, o turismo fortalece a cultura, gera renda e promove experiências únicas.”

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