A Vila de Alter do Chão viveu uma de suas noites mais emocionantes durante a apresentação oficial dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, no Festival dos Botos 2025.
Os dois grupos, que protagonizam uma das mais belas manifestações culturais da Amazônia, defenderam com paixão e criatividade os 16 itens que compõem o espetáculo, celebrando a ancestralidade, a resistência e a identidade do povo Borari.
A apresentação começou com o Tucuxi, que trouxe à arena o tema “A Essência Borari”. A abertura foi marcada pela chegada do apresentador Daniel Costa, surgindo como ‘Iaci’, a lua, ‘figura’ de grande poder espiritual.
Em seguida, o cantador Izelon Silva apareceu montado em um belíssimo pássaro, dando início à condução musical do espetáculo. A cena evocava a conexão direta com os encantados e os elementos naturais.
A presença do curandeiro emocionou o público ao representar a sabedoria ancestral e o poder da cura tradicional. “É sempre uma emoção estar aqui mais um ano, defendendo esse item que carrega tanto da nossa fé, da nossa cura e da força do nosso povo”, declarou o curandeiro, visivelmente comovido.
Lara Thais, a Rainha do Lago Verde, surgiu com imponência, representando a protetora das águas. De um muiraquitã, surgiu o boto animal, montado em uma arraia, iniciando sua evolução com leveza e força.
Logo após, o boto homem, interpretado por Breno Tavares, entrou no Lago dos Botos tocando saxofone ao vivo, misturando música e performance em um dos momentos mais aplaudidos da noite.
O Tucuxi também trouxe um forte componente político e social, ao reivindicar a demarcação do território indígena Borari como parte essencial de sua narrativa. A mensagem foi clara: a festa também é espaço de resistência e afirmação de direitos.
A Rainha do Sairé do Tucuxi, Valentina Coimbra, emocionou o público com uma apresentação carregada de significado. Em sua primeira roupa, homenageou as pessoas que ajudaram a construir o Sairé, e, em uma surpreendente troca de vestes, surgiu com as cores do rito tradicional. “Não estou aqui apenas representando a cultura, mas o próprio Sairé — essa festa ancestral, suas vivências, suas raízes. É uma honra carregar esse legado”, afirmou Valentina.
A apresentação seguiu com a figura da Cabocla, seguida pela Rainha do Artesanato, Isadora Matos, que apareceu dentro de uma grande cuia pintada, representando a riqueza do fazer manual e artístico da comunidade. O momento final ficou por conta da tradicional sedução do boto, encerrando a apresentação do Tucuxi com beleza e misticismo.
Em seguida, foi a vez do Boto Cor de Rosa entrar em cena, com o tema “Catraia: a encantaria do atravessar”. Theo Neves, o apresentador, conduziu o espetáculo que homenageou a travessia cotidiana dos ribeirinhos e a sabedoria das águas.
O cantador André Branco surgiu inspirado na leveza das garças, simbolizando a fluidez da vida na beira do rio.
A Rainha do Artesanato, Suzane Lima, apareceu com grande impacto, montada em uma arara vermelha, exaltando as cores da floresta e da cultura viva.
A narrativa do Cor de Rosa também deu destaque à personalidades da catraia e à resistência Borari, construindo um enredo forte e identitário.
A apresentação das Suraras do Tapajós trouxe a força das mulheres indígenas em um espetáculo marcado pela ancestralidade e pela presença feminina.
A Cabocla Borari, outra figura tradicional do festival, reafirmou a beleza da mestiçagem cultural amazônica.
O boto animal do Cor de Rosa chegou com imponência sobre um poraquê, peixe amazônico conhecido por sua descarga elétrica, símbolo de força e encantamento.
O curandeiro Neto Simões trouxe novamente o aspecto espiritual à cena, conduzindo um ritual que uniu fé, tradição e emoção.
A Rainha do Sairé do Cor de Rosa, Maria Eulália, fez sua última apresentação após oito anos defendendo esse item. Emocionada, agradeceu: “É um misto de gratidão e emoção. Agradeço ao Boto Cor de Rosa por me permitir viver essa história tão linda. Hoje, deixo o cargo com o coração cheio de memórias e amor por essa festa”.
Um dos momentos mais marcantes da apresentação foi a entrada da Guardiã do Lago Verde, Flavia Manuela, que chegou montada em um enorme jacaré, representando o poder protetor das águas do Tapajós.
Ao final da apresentação, o presidente do Boto Cor de Rosa, Tiago Vasconcelos, celebrou o êxito do grupo. “Deu tudo certo. Foi uma apresentação belíssima, com cada item muito bem defendido. Estou muito orgulhoso do nosso time e da nossa comunidade”, afirmou, com o sorriso de quem sabe que fez história.
A noite de apresentação oficial dos botos foi mais do que um espetáculo: foi uma celebração viva da cultura amazônica, onde arte, identidade e memória caminharam juntas, tocando os corações de todos que estavam ali para testemunhar a grandeza do Sairé.
Para a concepção, desenvolvimento e execução dos projetos artísticos “Essência Borari”, do Boto Tucuxi, e “Catraia – Encantaria do Atravessar”, do Boto Rosa, assim como do Rito Tradicional “Sairé 2025 – Cecuiara da Tradição”, contam com o apoio de parceiros públicos e privados por meio de projetos incentivados pela Lei Rouanet, do Governo Federal, via Ministério da Cultura. Contam ainda com o patrocínio do Ministério do Turismo, Sesc, Equatorial Energia, Banpará, Amstel, Coca-Cola, Vivo, Caixa, Companhia Docas do Pará e Avante Atacadista. Agência oficial: Maná Produções. Apoio: Secretaria de Estado de Cultura do Pará, Assessoria Cultural, Borari Produções. Realização: Prefeitura de Santarém, em acordo de cooperação com o Ministério do Turismo, Sesc, Senac, Governo do Pará, Fundação Cultural do Estado do Pará e Semear – Programa Estadual de Incentivo à Cultura.
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