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Ritual da Busca dos Mastros marca pedido de bênçãos para o Sairé 2025 Autor: Ronaldo Ferreira

Ritual da Busca dos Mastros marca pedido de bênçãos para o Sairé 2025

Katrine Bentes
Publicado em - Atualizado
A cerimônia reuniu autoridades, moradores e turistas em uma celebração que une fé, cultura e tradição.

As procissões, embaladas por ladainhas e folias, seguiram por ruas e rios até a floresta da Enseada das Mangueiras. A cerimônia aconteceu neste sábado (13), em Alter do Chão, distrito a 37 km de Santarém, reunindo autoridades, moradores e turistas para o rito da Busca dos Mastros — troncos que simbolizam a união com o celestial. O intuito foi pedir permissão e bênçãos aos encantados — seres sobrenaturais guardiões da floresta e da natureza — para celebrar mais uma edição do Sairé, a principal manifestação cultural do município, que há mais de 300 anos une o sagrado e o profano.

A programação oficial ocorrerá de 18 a 22 de setembro, com o tema “Cecuiara da Tradição”, em homenagem aos saberes ancestrais do povo indígena Borari. O evento é organizado pela comunidade de Alter do Chão, em parceria com a Prefeitura de Santarém, o Ministério da Cultura e o Ministério do Turismo, além do apoio de patrocinadores e colaboradores.


Ritual da Busca dos Mastros

O dia amanheceu agitado, por volta das 7h30, com um café coletivo no barracão do evento. Tapiocas, pãos, bolos típicos, mingaus e frutas foram servidos em um ambiente de integração que valorizou a culinária local. O momento também foi dedicado aos últimos ajustes, definindo detalhes e alinhando cada etapa que viria a seguir.

A procissão terrestre deu inicio ao rito. O capitão seguia à frente, acompanhado pelos alferes que agitavam as bandeiras. Logo atrás, a saraipora conduzia o arco do Sairé, auxiliada pelas Moças das Fitas. Juiz e juíza caminhavam um de cada lado, enquanto mordomos e mordomas carregavam varinhas ornamentadas. Os rufadores embalavam com tambores e cânticos, enquanto populares e visitantes seguiam juntos, imersos em cores, sons e devoção.

Na praia do Centro de Atendimento ao Turista (CAT) teve início o cortejo fluvial. Centenas de catraias — pequenas canoas a remo típicas da região —, enfileiradas por cordas e enfeitadas com fitas coloridas, deram vida ao trajeto, sendo puxadas por barcos. Ao todo, cinco embarcações participaram: duas transportavam os integrantes do rito religioso e três levavam comunitários e turistas.

A frota avançava lentamente em direção ao outro lado do rio. Durante o percurso, ladainhas e folias — músicas em louvor aos santos — ressoavam entre os barcos ao som de caixas e outros instrumentos de percussão. Ao mesmo tempo, o tarubá, bebida indígena fermentada de mandioca, circulava de mão em mão em cuias, lembrando que o ritual é também um momento de partilha e união.

Ao chegar à Praia Enseada das Mangueiras, indígenas, lideranças comunitárias e integrantes do rito ajoelharam-se, entoando uma oração e um canto sagrado em busca de bênçãos e proteção antes de adentrar a mata para a busca dos mastros — troncos grandes e pesados que representam a força espiritual. Duas equipes, de homens e mulheres, disputaram para ver quem chegaria mais rápido, carregando os mastros nos ombros e correndo de volta à praia. A competição, que combina força, resistência e tradição secular, consagra quem chega primeiro. Neste ano, as mulheres saíram vitoriosas.

O ritual também incluiu o plantio de 50 mudas nativas, entre elas andiroba, ipê e tarumã. A ação, fruto da colaboração entre o Instituto de Pesquisa e Biodiversidade (IPBio) e a comunidade de Alter, reforçou o compromisso com a sustentabilidade, repovoando árvores retiradas e promovendo a preservação ambiental.

Com os mastros colocados nas catraias, o cortejo fluvial retornou à margem entre cantos, danças e rezas, até a praia do CAT. De lá, a procissão terrestre seguiu até a Praia da Gurita (popularmente conhecida como Praia do Cajueiro), em frente à Ilha do Amor, onde os mastros permanecerão até o próximo ato cerimonial.

Após o encerramento do rito, foi realizado um almoço coletivo, com pratos e bebidas regionais, embalado pelas músicas dos grupos Espanta Cão e Sons do Norte, que trouxeram ritmo e alegria ao barracão do evento.

Maria Eulália, da coordenação do evento, explicou a importância do momento e o significado do mastro:

“O que torna a Busca dos Mastros tão especial para o Sairé é ser o primeiro contato com a natureza, quando pedimos permissão aos encantados para iniciar a grande festa. Esse rito tem uma ligação muito íntima com a floresta e, durante a busca, nos conectamos com nossos ancestrais e pedimos a bênção para celebrar mais uma vez o Sairé.”

Osmar Vieira, da coordenação do Sairé, pontuou a importância dos mastros.

“A cerimônia sagrada teve como propósito celebrar os mastros, considerados a alma da festividade por simbolizarem a ligação com o divino. Ou seja, eles expressam a conexão com a fé, as raízes culturais e a memória coletiva.”

Para o secretário municipal de Turismo, Emanuel Júlio, a festa movimenta o turismo, a economia e a cultura:

“O Sairé é um pacote completo. Realizado em Alter do Chão, um dos lugares mais incríveis da Amazônia, reúne história, cultura, religiosidade e folclore, especialmente com o Festival dos Botos. Acontece na alta temporada, quando a baixa do rio revela belas praias e paisagens naturais, como a Ilha do Amor. Alter do Chão cumpre esse papel de irradiador de roteiros turísticos, e é nesse cenário que a festa ganha força cultural e turística.”

A festividade foi reconhecida em 2024 como Patrimônio Cultural Brasileiro pela Lei Federal nº 14.997. A secretária municipal de Cultura, Priscila Castro, destaca o que representa essa grande manifestação.

“O Sairé é uma manifestação com mais de 300 anos de história na Amazônia e que, em Santarém, segue viva e potente graças à força do povo Borari e à união da comunidade. Ele representa o fortalecimento da nossa identidade cultural e movimenta toda a cidade durante meses de preparação. Além de ser um símbolo de resistência e valorização cultural, o Sairé também gera emprego, renda e oportunidades, impactando diretamente a economia da cultura do município.”

“Achei tudo muito bonito e organizado. Esse senso de comunidade é impressionante, fiquei encantada. Acho que deveríamos valorizar mais nossa cultura, sem essa síndrome de vira-lata. Foi a primeira vez que acompanhei esse rito e fiquei muito encantada”, pontua Francisca Conceição.

Para a concepção, desenvolvimento e execução dos projetos artísticos “Essência Borari”, do Boto Tucuxi, e “Catraia – Encantaria do Atravessar”, do Boto Rosa, assim como do rito tradicional “Sairé 2025 – Cecuiara da Tradição”, houve apoio de parceiros públicos e privados por meio de projetos incentivados pela Lei Rouanet, do Governo Federal, via Ministério da Cultura.

A festa conta ainda com o patrocínio do Ministério do Turismo, Sesc, Equatorial Energia, Banpará, Amstel, Coca-Cola e Vivo. Agência oficial: Maná Produções. Realização: Prefeitura de Santarém, em acordo de cooperação com o Ministério do Turismo, Sesc, Senac, Governo do Pará, Fundação Cultural do Estado do Pará e Semear – Programa Estadual de Incentivo à Cultura.

 

Programação completa da festa oficial:

 (clique aqui)

 

 

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