Entre cantos, procissão e fé, Alter do Chão celebrou na manhã desta quinta-feira (18) o ritual do Levantamento dos Mastros, que marcou a abertura do Sairé 2025. A festividade, que segue até 22 de setembro, tem como tema “Cecuiara da Tradição”, em homenagem aos saberes ancestrais do povo indígena Borari. Cada gesto do ritual simboliza fartura, purificação, fertilidade e espiritualidade, reforçando a grandeza do Sairé, manifestação cultural que há mais de três séculos une o sagrado e o profano.
Ritual do Levantamento dos Mastros
O ritual começou no Barracão do Sairé, onde orações e ladainhas abriram caminho para a procissão. À frente seguia o Capitão, seguido pelo Saraipora, responsável pelo símbolo da festa. Depois vinham as meninas das fitas, a Torneira com a coroa, os mordomos com suas varinhas e os rufadores, que marcavam o ritmo com a percussão. Foliões, folionas e rezadeiras completavam o cortejo, que seguiu até a Praia da Gurita, ou Praia do Cajueiro, para buscar os mastros — troncos sagrados que simbolizam a ligação com o divino.
De volta à Praça do Sairé, começou a competição para ornamentar e erguer os mastros. Homens e mulheres se dividiram em equipes, decorando os troncos com folhagens e frutas típicas em ritmo acelerado, pois a agilidade faz parte do desafio. A vitória cabia ao grupo que levantasse o mastro primeiro, em meio à vibração coletiva, gritos de incentivo e grande emoção. Neste ano, os homens saíram vencedores, em um momento marcado pela força, união e alegria.
Cada etapa do ritual carrega significados profundos. Os mastros, pertencentes ao juiz e à juíza da festa, recebem folhas e galhos de invira, associados à purificação, e frutas regionais, símbolos de abundância e da força do povo Borari em cultivar a terra. No topo, duas bandeiras sustentam a pomba do Divino Espírito Santo, voltada para o rio, conectando o sagrado indígena ao divino católico e estabelecendo um elo entre diferentes crenças.
Fincar os mastros no solo vai além da competição: é um gesto que celebra a fertilidade, a harmonia entre comunidade e natureza e reforça a fé que sustenta a tradição. Simboliza continuidade, resistência e a transmissão de saberes às novas gerações. Para o povo Borari, erguer os mastros é mais que um ritual festivo — é perpetuar identidade cultural, espiritualidade e a simplicidade que mantém viva a essência do Sairé.
Maria Eulália, coordenadora do evento, explica a importância do ritual de hasteamento dos mastros:
“Os mastros têm toda uma simbologia dentro da festa. Eles derivam das festas de Santos, pois nossa celebração também era realizada junto à de Nossa Senhora da Saúde — anteriormente chamada Nossa Senhora da Purificação. Os mastros simbolizam fartura, purificação e fertilidade. O momento em que fincamos o mastro na terra representa a fertilidade do nosso povo Borari e a abundância de riquezas em nosso território.”
Entre os visitantes, está Malvina Conte, de Belém, que realizou o sonho de conhecer Alter do Chão e participar do Sairé:
“Eu tinha o sonho de vir a Alter do Chão e participar do Sairé. Sempre via pela televisão e queria muito conhecer, mas confesso que tinha medo de viajar de avião. Minha família me incentivou bastante, dizia: ‘Vai, você consegue!’, e consegui vir. Agora estou com amigas, numa pequena caravana, e está sendo incrível.”
O prefeito José Maria Tapajós destaca a importância cultural e turística do Sairé, ressaltando o valor da tradição para a comunidade e para os visitantes:
“É uma grande alegria receber visitantes de todo o Brasil e do mundo para o Sairé. Esta festa não é apenas um momento de celebração, mas também um símbolo da nossa identidade, da história e da cultura do povo Borari. Cada ritual, cada detalhe, reflete a riqueza da nossa tradição e fortalece o vínculo da comunidade com suas raízes. Estamos comprometidos em apoiar e preservar essas manifestações, garantindo que todos possam vivenciar e se encantar com o que Alter do Chão tem de mais precioso.”
Para a concepção, desenvolvimento e execução dos projetos artísticos “Essência Borari”, do Boto Tucuxi, e “Catraia – Encantaria do Atravessar”, do Boto Rosa, assim como do rito tradicional “Sairé 2025 – Cecuiara da Tradição”, houve apoio de parceiros públicos e privados por meio de projetos incentivados pela Lei Rouanet, do Governo Federal, via Ministério da Cultura.
A festa conta ainda com o patrocínio do Ministério do Turismo, Sesc, Equatorial Energia, Banpará, Amstel, Coca-Cola e Vivo. Agência oficial: Maná Produções. Realização: Prefeitura de Santarém, em acordo de cooperação com o Ministério do Turismo, Sesc, Senac, Governo do Pará, Fundação Cultural do Estado do Pará e Semear – Programa Estadual de Incentivo à Cultura.