Em comemoração ao Dia do Ceramista, celebrado em 28 de maio, a Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Semtur), prestou homenagem ao ceramista e arqueólogo Jefferson Paiva. A visita ao seu ateliê destacou o valor de um ofício ancestral que, além de movimentar a economia criativa, fortalece o turismo, preserva a memória coletiva e reafirma a identidade cultural da região.
Iniciado na arte aos 15 anos, Jefferson é hoje uma das principais referências na produção de réplicas da cerâmica tapajônica, expressão milenar deixada pelos povos originários do baixo Tapajós.
"Trabalho com estatuetas antropomorfas, vasos de gargalo e vasos-cariátides. As originais estão em acervos distantes, como o do Museu Emílio Goeldi, mas as réplicas trazem esse patrimônio de volta ao povo de Santarém”, explica.
Mais do que objetos decorativos, suas peças são ferramentas de valorização histórica, educativa e turística.
Parte significativa da produção é adquirida por colecionadores e instituições de estados como São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, além do Distrito Federal.
Já no mercado local, a procura é voltada à cerâmica utilitária — panelas, potes e utensílios tradicionais.
Além disso, Jefferson promove oficinas para visitantes que desejam vivenciar o processo artesanal, do barro à peça final.
O saber que cultiva é, também, um elo afetivo entre gerações. Aprendeu com o pai, Daniel Melo, que foi discípulo do avô, Mestre Isauro Farias.
“Tanto do lado paterno quanto materno, minha família sempre viveu da cerâmica. Agora ensino minhas filhas, Maria Cecília, de 8 anos, e Maria Gabriela, de 5. Assim, esse saber continua vivo”, relata com orgulho.
Formado em Arqueologia pela UFOPA, Jefferson atualmente cursa Mestrado no Museu Emílio Goeldi, onde pesquisa a repatriação simbólica da cerâmica tapajônica.
Sua proposta defende que réplicas marcadas e acessíveis possam, no imaginário coletivo, ocupar o lugar das peças originais, ainda mantidas sob guarda institucional.
“A réplica carrega a mesma carga simbólica e informativa, mesmo sem o valor material da original. É uma forma de devolver esse patrimônio ao seu lugar de origem”, afirma.
O barro que vira memória
O processo começa com a obtenção do barro, geralmente fornecido por produtores de telhas que ainda extraem o material da várzea. Após a limpeza, a argila é moldada à mão, seca naturalmente e queimada em forno a cerca de 700 °C. O resultado são peças duráveis, ricas em formas e ornamentos inspirados em coleções arqueológicas.
Para Jefferson, preservar essa prática é mais do que profissão — é uma missão de resistência cultural.
“Muitas peças deixaram de ser produzidas no século XVI, quando os jesuítas proibiram a cerâmica indígena. Retomar essa prática, séculos depois, é uma forma de resgate e inspiração para as novas gerações, como as crianças que vêm até aqui e se encantam com o barro ganhando forma”, diz.
O secretário municipal de Turismo, Emanuel Júlio Leite, destacou a importância do trabalho de Jefferson.
“Esse trabalho é extraordinário. O ceramista não é apenas um profissional, mas um guardião da cultura tapajônica. No barro moldado pelas mãos de Jefferson, está a história de um povo e o futuro de uma cidade que valoriza suas raízes".
O Ateliê Arte Tapajônica está localizado na Rua Beija-Flor, nº 100, no bairro Jardim Santarém. É lá que ganham forma as peças de cerâmica e onde também são realizadas as oficinas com técnicas tradicionais da região. Para quem deseja conhecer o espaço, fazer encomendas ou participar das atividades, o contato pode ser feito pelo número (93) 99152-4365 ou pelo Instagram @artetapajonica.