Procissão Fluvial com catraias foi conduzida pelos barcos dos itens do Çairé e pelo das autoridades. Foto: Mauro Nayan Os estalos da alvorada de fogos às 5h no distrito de Alter do Chão anunciaram: começou mais um Çairé, grande manifestação folclórico-religiosa da Amazônia. Com o tema “Fé que emociona, magia que encanta”, a festa com mais de 300 anos ocorreu na manhã deste sábado (14) e agitou a serena vila.
Café da manhã antecedeu a procissão e busca dos mastros. Foto: Ronaldo Ferreira. Como todos os anos, a tradição foi mantida e após um café da manhã comunitário, as ladainhas cantadas pelos personagens do Çairé – juiz, juíza, procurador, procuradeira, capitão, sargento, mordomos, mordomas, moças da fita, menina do tamborim, alferes e foliões – iniciaram dando o tom a primeira procissão.
Osmar Vieira, coordenador do rito religioso. Foto: Ronaldo Ferreira. Explicando sobre a essência da festa, o coordenador do ritual e também juiz Osmar Vieira ressaltou o encontro da cultura indígena amazônica com a religião católica. “Quando abrimos o cortejo do rito religioso trazemos conosco uma fé que foi repassada por nossos antepassados indígenas. É como trazê-los de volta a encarnação para viver esse momento conosco. Não tem como não se emocionar com todo o acontecimento da festa. O Çairé é resistência, é a força do espírito santo que nos leva a manter nossa fé, é o vínculo de união comunitária”.
O titular da pasta de Cultura em Santarém enfatizou sobre o fundamento da festa. “Temos a consciência de que o Çairé é o religioso. A busca dos mastros simboliza o início de toda essa festa. Desde nossa gestão, apoiamos todos os anos para que as pessoas possam respirar a cultura local e o verdadeiro significado da festa.”
Conduzidos pelo Arco do Çairé, símbolo maior da festa que representa a Santíssima Trindade, turistas; comunitários; autoridades e personagens caminharam até as escadarias que dão acesso a Ilha do Amor e em barcos e catraias ornamentadas seguiram em uma emocionante procissão fluvial até a Praia de Santa Luzia para a busca dos mastros.
O encantamento da tradição e todas as etapas que o permeiam atraiu a curiosidade de muitos turistas. “Eu e minha esposa viemos com a intenção de conhecer o turismo local e não sabíamos que ocorria esta festa, então para nós foi uma grata surpresa. É fascinante conhecermos essas tradições ao vivo que só tínhamos ouvido falar e lido em livros. Está sendo uma experiência incrível”, contou entusiasmado Wilson Marrana, natural de São Paulo. Wilson Marrana registrou todo o ritual. Foto: Mauro Nayan.
Os barcos e catraias atracam. É chegada a hora de descer das navegações e adentrar a mata pela busca dos dois troncos de árvores que serão hasteados na próxima quinta-feira (19) durante os cincos dias de festa. Em uma amigável disputa entre homens e mulheres, os dois mastros foram levados até a beira da praia onde, novamente em cortejo fluvial, seguiram até a praia da Gurita para serem erguidos na próxima semana na Praça do Çairé.
As árvores retiradas da mata foram da espécie morraozeiro. No local, foram plantadas 50 mudas das espécies açaí, oiti e pau-preto como contrapartida de compensação ambiental. Agentes ambientais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma) acompanharam o plantio.
“Faz parte da nossa cultura, mas é preciso respeitar o meio ambiente e perpetuar nossas tradições. Por isso, enquanto órgão ambiental, acompanhamos o replantio e reforçamos a mensagem de cuidados com a Amazônia e as belezas naturais de Alter do Chão”, destacou a secretária de Meio Ambiente, Vânia Portela.
“Essa é uma tradição que envolve toda a comunidade de Alter do Chão e também nós, santarenos. Viemos prestigiar mais uma vez este momento. Desde nosso primeiro ano de governo trabalhamos a divulgação do rito religioso, dos personagens do Çairé e da busca dos mastros para que as pessoas de fora conheçam todas as etapas desta belíssima festa”, pontuou o prefeito Nélio Aguiar que esteve presente durante toda a procissão.Prefeito Nélio Aguiar com as juízas do Çairé, autoridades máximas da festa.
A festa de louvor ao Divino Espírito Santo com integração de elementos da natureza e folclore indígena inicia oficialmente na quinta-feira (19) e encerra na segunda-feira (23) com a derrubada dos mastros.Saraipora (Dalma de Oliveira) carregando o símbolo maior da festa: o Arco do Çairé.