A pesquisadora e escritora Regina Aparecida Marques de Souza, que produz livros voltados à Educação Infantil esteve em Santarém nesta segunda-feira, 22. Na ocasião ela fez uma vista de cortesia à secretária municipal de Educação, Mara Belo e
à coordenadora de Educação Infantil da Semed, Aline Rodrigues.
Regina falou sobre o livro que veio lançar em Santarém durante o Seminário de Educação Infantil, realizado em parceria entre a Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e Semed. Segundo ela, a obra é resultado do trabalho realizado na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) junto com a professora de pós-graduação da instituição da cidade de Marília, Suely Melo.
A escritora contou que fazia estágio de pós-doutorado e organizou um trabalho de pesquisa com alunos de 0 a 3 anos de idade e ao final, depois de uma avaliação culminou no livro que fora lançado. O trabalho foi voltado à relação da educação com bebês, pensando no cuidar e no educar das crianças pequeninas e tudo começa a partir do texto do livro intitulado Educação de Bebês: cuidar educar para o desenvolvimento humano, página 224, afirmando que: "as transformações que as crianças experimentam nos três primeiros anos de vida são tão notáveis que alguns psicólogos costumam dividir o desenvolvimento humano em dois momentos: zero a três anos de idade e daí para o resto da vida", citado pela pesquisadora russa Valéria Morina, discípula de Vighoski. Regina diz que essa definição é um ponto inicial para se pensar a educação de zero a três anos de idade e a sua importância para o resto da vida, no processo de educação dos pequeninos.
A pesquisadora também destacou o papel da escola e da família nessa fase da educação das crianças, considerando que se trata de um assunto bem complexo. Segundo ela, de acordo com a legislação, ao definir o papel da família e da instituição educacional, cabe à família se fazer presente e ser parceira da educação. "Essa educação que a gente fala que vem da família, vem de berço, isso era antes de ter uma instituição que estivesse educando e cuidando da criança pequena".
Para a escritora, o objetivo da educação é humanizar o sujeito, que não nasce humano. Regina disse que o sujeito se transforma humano a partir das relações sociais e essas relações se dão na família, nas instituições, no espaço social que ela frequenta e na comunidade. "Então todos nós estamos em conjunto responsáveis pela educação do novo ser. Transformar o sujeito em ser humano, que vem se humanizando ao longo dos anos, especialmente, esse ser que vai se humanizar de zero a três anos, que nessa fase vai transformar as suas capacidades psicológicas superiores, linguagem, fala, pensamento, autocontrole da vontade", observou.
A escritora disse que isso tudo se dá nas relações interpessoais. Ocorre de fora para dentro, mas se internaliza e se apropriam de dentro para fora também, por meio dos movimentos que chamamos à aprendizagem, interpessoal e intrapessoal. "E isso se dá na escola, na família, com os amigos, na comunidade. Nesses ambientes sociais", destacou.
Esses estudos, segundo a pesquisadora, devem marcar como pontos positivos a ida das crianças às creches, em se tratando da aprendizagem. Pensa-se, sobretudo, no aprender, no falar, no pensar. Em todos esses momentos a criança se desenvolve e os professores que estão nessas unidades de educação infantil são responsáveis por esse aprendizado, o que não dá para separar, ou seja: "eu sou professora e eu educo e a cuidadora cuida. Não é assim. Todos nós fazemos o trabalho de educar e cuidar, em conjunto. A professora educa e cuida, a auxiliar educa e cuida também". Segundo a pesquisadora, no processo de formação da criança não pode haver essa separação, pois a criança é uma só.
Educação Infantil em Santarém
A escritora Regina Marques veio a Santarém em um momento de efervescência sobre a Educação Infantil, momento da premiação de professores pelo Ministério da Educação e os bons resultados conquistados pelo município no índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
Regina disse que ao ouvir a professora Adriane Gisele Sá Menezes teve a convicção de que não deveria mais responder questão alguma sobre educação infantil, pois a exposição da professora mostra um trabalho merecidamente premiado, mas um trabalho que ela não o fez para ser premiada. "O que eu percebi na fala da professora Adriane que ela faz o que faz porque é professora no real sentido da palavra, pois quando fala da experiência dela causa emoção aos interlocutores, pois o que ela mostra em seu relato é realmente resultado de compromisso com a educação infantil".
A pesquisadora afirma que a professora Adriana, em seu local de trabalho, ressignificou o espaço de descanso e transformou em um espaço de aprendizagem às crianças. "Eu disse a ela, Adriane eu quero o vídeo de sua experiência, pois vou mostrá-lo em qualquer lugar desse país onde eu for, para comprovar que não se trata de teoria, mas de uma prática inovadora. A professora Adriane mostra que é possível aplicar o conhecimento na prática", afirmou.
Para Regina o que ajudou a professora Adriane criar esse ambiente e uma versão diferenciada foi a sua decisão de voltar a estudar e com isso, fazer uma relação dialética unindo teoria e prática, ou seja, ela conseguiu fazer o momento ação, reflexão, ação e cria uma prática diferente, inovadora e eficaz, não comum e que, por isso, precisa ser mostrada, discutida, exemplificada.
A escritora diz que pela experiência da professora Adriane é possível mostrar que as crianças não vão apenas passar o dia nas creches, mas vão passar por um processo de aprendizado, sem colocar as letrinhas pela parede da sala para ler. Segundo ela, as pessoas acreditam que para as crianças aprenderem precisam de letras na parede. "Não. Não precisa disso. Precisa ter uma construção de sentido dessa criança e a professora Adriane mostra em um espaço organizado destinado a criança e com a criança, ou seja, a criança também está organizando o espaço em conjunto", afirmou.
Para a pesquisadora tem que haver o protagonismo da criança, do professor e da cultura. Regina afirma que a cultura que vai mediar essa construção, pois o professor é responsável pela organização do planejamento intencionalmente, mas a criança tem as suas intenções também e ela aprende a partir dessas relações, com acultura mediando esses aspectos.
Sobre a legislação que normatiza a Educação Infantil no Brasil, Regina disse que a sua exposição no seminário tratou desse assunto, onde tentou mostrar que nenhum documento legal, oficial fala em alfabetizar a criança na educação infantil. "Eu não estou dizendo que não se vai trabalhar com a linguagem oral e escrita, com a cultura escrita, com as práticas sociais que permeiam a vida das crianças em todos os aspectos".
De acordo com a pesquisadora, não se vai trabalhar com o processo ensino/aprendizagem sobre leitura e escrita, mas se trabalha lendo com as crianças e deixando as crianças lerem a partir do olhar delas, escrevendo tudo referente ao cotidiano com as crianças, de maneira que despertem para a escrita em seu próprio tempo, pois a escrita tem uma função real.
Regina também disse que se escreve o planejamento junto com as crianças, a rotina do dia e se mostra tudo, se lê para elas tudo o que foi escrito, embora não saibam ler e nem escrever, elas organizam e olham o real sentido da fala e da leitura. "A partir daí eu formo atitude leitora, escritora e autora na criança. Formar atitude não é ensinar a ler e escrever. Ensinar a escrever é uma ação do ensino fundamental e não da educação infantil", advertiu.
A pesquisadora também disse que o Brasil está muito bem posicionado no mundo com relação à evolução da educação infantil. Com relação a esse tema, o país está à frente de muitas nações mais desenvolvidas, mesmo considerando que o Brasil e diverso. Segundo ela, há um grupo de pesquisadores considerável espalhados em todas as regiões, inclusive no Norte e no Nordeste. Esse grupo é formado por professores e pesquisadores que já ultrapassam os muros das universidades, através da pós-graduação que se faz presente em outros espaços da sociedade, por meio dos orientados que também são professores da educação Infantil e do ensino fundamental, do ensino médio e na própria universidade. São estudos que estão diretamente ligados à educação básica, formando uma grande rede de pesquisadores em todo o país.
Seminário – Ufopa/Semed
Sobre o Seminário de Educação Infantil, a professora Regina Marques destacou que foi um evento de ponta e nesse aspecto parabenizou a organização do Seminário em nome da professora Sinara da Ufopa e da Professora Aline Rodrigues da Semed.
Durante a sua exposição, a pesquisadora disse que usou termos como "nós tiramos o alfabeto da parede, usando uma metáfora. Mais que retirar o alfabeto da parede o importante é destacar que se está apresentando práticas inovadoras as nossas crianças para que elas possam aprender e se desenvolver como seres humanos".
Para ela, essa atitude leitora e escritora, é que compete à educação infantil, além de ser mais interessante do que ficar lendo e decorando alfabeto, as vogais, os números, decorando ou fazendo exercícios preparatórios como se fazia na década de 1970, quando veio à pré-escola com a lei 5.692/1971.
De acordo com a pesquisadora, a pré-escola dessa data precisava suprir as deficiências da criança e até os dias atuais da educação infantil, praticamente, se caminha com as mesmas perspectivas sem que esses objetivos sejam alcançados. Regina discorda e diz que a perspectiva da educação infantil não essa. "Vamos pensar na educação infantil de zero até seis anos de idade numa perspectiva de formar atitudes de leitura e de produção de texto", concluiu.
Sobre a visita de cortesia da escritora Regina Aparecida Marques de Souza à Semed, Mara Belo considera que foi um momento ímpar por se tratar de uma pessoa que está pesquisando e produzindo conhecimento e que vem a Santarém e a outras cidades brasileiras, para contribuir significativamente com a melhoria da educação básica que ainda é um grande gargalo no país. Além disso, esses mementos são importantes porque os pesquisadores compartilham o conhecimento que estão produzindo.
Segundo a secretária de Educação, o município tem sido um diferencial em relação ao entendimento de se trabalhar a educação básica. Em Santarém se tem uma programação permanente de melhoria dos ambientes da educação infantil. Mara disse que nos últimos dois anos do atual governo já foram entregues à comunidade oito unidades de educação infantil modernas e até ao final do governo estão programadas mais 16 unidades, o que significa melhoria à boa prática educativa às crianças, visando atender as formalidades, as necessidades e os desafios do século 21.
A secretária de educação, no entanto, disse que a estruturação das instituições de ensino básico em Santarém vai além da construção de prédios. Junto com as novas unidades vem os equipamentos apropriados ao ensino/aprendizagem e o mais importante, o programa de formação continuada de todos os servidores da rede, em especial, os educadores infantis, "pois acreditamos que a base é fundamental. A forma de ver, de trabalhar, de entender é fundamental nessa etapa da educação", afirmou.
Informações da escritora
Regina Aparecida Marques de Souza possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1991), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (1999) e doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (2006). Realizou estágio de pós-doutorado na Universidade de Évora, Portugal (2015) e Universidade Estadual Paulista/UNESP, em Marília. É professora Associada da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, atuando no curso de Pedagogia, campus de Três Lagoas e no Programa de Pós-Graduação em Educação do campus do Pantanal/Corumbá/CPAN. Tem experiência na área de Educação e atua nos seguintes temas: teoria histórico-cultural, formação de professores/as, apropriação da escrita e práticas educativas com crianças de 0 a 10 anos. Coordenou de 2013 a 2017 o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa/PNAIC/UFMS/MEC em Mato Grosso do Sul. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Linguagem, Educação e Infância-Teoria Histórico Cultura? GEPLEI-THC/UFMS/CNPq. Coordenou o GT 07 Educação de crianças de 0 a 6 anos da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação/ANPED da Região Centro-Oeste (2014-2016). Representante Titular da Associação Brasileira de Alfabetização/ABALF na região Centro-Oeste (2018-2020). Membro do Comitê Gestor do Fórum Permanente de Educação Infantil de Mato Grosso do Sul (2018-2020).