Há aproximadamente 44 anos, os moradores da Ilha de São Miguel, região do Aritapera, várzea santarena, fiscalizam voluntariamente os lagos da área para coibir a pesca predatória. Ao longo desse tempo, usavam apenas as próprias canoas para fazer as rondas, mas a partir deste sábado (17) eles já estão contando com uma lancha e motor tipo rabeta, cedidos pela Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), para ajudar na proteção dos recursos naturais da localidade ribeirinha.
A entrega do veículo, realizada na manhã de sábado, na própria comunidade, contou com a participação do prefeito Nélio Aguiar, do vice-prefeito José Maria Tapajós, do presidente da Câmara de Vereadores de Santarém, Antônio Rocha, da secretária Municipal de Meio Ambiente, Vânia Portela, do secretário de Agricultura e Pesca, Bruno Costa, secretária de Assistência Social, Celsa Brito, secretária de Gestão, Orçamento e Finanças, Josilene Pinto, além do comandante do 3º BPM, Ten. Cel. Aldemar Maués, a coordenadora do escritório do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) no Baixo Amazonas, Alcilene Cardoso, e dos vereadores Alaércio Cardoso (PRP), Jandeilson Pereira (PSDB) e Henderson Pinto (DEM).
A comunidade, que recebeu a comitiva com fogos de artifício, se sentiu bastante contente com a nova ferramenta de proteção ao meio ambiente. O presidente da Associação dos Nativos Moradores da Ilha de São Miguel (ANMISN), Manuel Santos, considerou o veículo uma grande conquista para a comunidade que está sempre atenta quando alguém tenta adentrar em um dos 7 lagos que compõem a localidade para práticas ilegais de pesca.
"Nasci e me criei aqui, mas vendo que os comunitários pescavam de forma desordenada, o que levou à escassez de muitas espécies, foi que em 1974 os moradores resolveram se unir e começar a organizar a fiscalização dos rios e lagos e só tirar o peixe para a subsistência. A partir dos próximos anos, notamos a grande presença de todas as espécies como o pirarucu. Daí, passamos a fazer o manejo da espécie", explicou Manuel Santos.
"Aqui na comunidade é tudo organizado. A pesca do pirarucu, por exemplo, só é feita pelos moradores de junho a novembro. O período que ele já está com os filhos grandes, criados. Antes disso, dividimos em equipes que fazem as rondas tanto de dia, quanto à noite. É um trabalho de formiguinha. Essa lancha vai contribuir muito. Contávamos apenas com canoas ou rabetas que tornavam difícil o trabalho de chegar aos criminosos que acabavam fugindo. Agora, com a presença da Semma e da Polícia Militar, nos sentimos mais seguros e isso ajuda a conscientizar os moradores para cuidar dos bens da Ilha de São Miguel", relatou a moradora Jacilda Sá, de 48 anos.
O prefeito Nélio Aguiar destacou o importante trabalho ambiental que a comunidade vem realizando, mostrando-se como modelo para as demais regiões do município. O gestor municipal afrimou que, nesse momento de crise econômica financeira, a Prefeitura, os moradores e as demais instituições precisam unir forças e, a exemplo do serviço promovido pelos moradores da Ilha de São Miguel, buscar sempre a melhoria da qualidade de vida da população.
"Essa lancha vai trazer um reforço, um instrumento a mais para as fiscalizações de combate à pesca predatória, grande demanda das comunidades ribeirinhas. Infelizmente, pescadores de outras comunidades, e até mesmo de outros municípios, acabam desrespeitando as leis ambientais como o período do defeso. Estamos atuando com estratégias diversificadas, por meio da educação ambiental e fiscalização, além da parceria com a Polícia Militar para reforçar o combate aos crimes ambientais", ressaltou Nélio Aguiar.
Saiba mais:
A secretária municipal de Meio Ambiente, Vânia Portela, explicou que essa é uma primeira comunidade beneficiada com equipamentos resultados das operações de fiscalizações ambientais da Semma. "Estamos fazendo o repasse por meio do Termo de Cessão de Uso. O veículo ajudará no transporte durante as fiscalizações e ações de educação ambiental que serão desenvolvidos pelos próprios comunitários".
Mobilização social
Atualmente a Ilha de São Miguel é reconhecida como Projeto de Assentamento Agroextrativista pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) por conta das populações tradicionais e sendo berçário natural ecológico, pois possui vegetação bastante conservada e lagos profundos, habitat excelente para a reprodução de pescado.
É formada pelo Lago do Pulsão, Lago Paranã, Lago do Arauanã, Lago Igarapezinho, Laguinho, Lago da Jararaca e o Lago da Remoada. Nesses mananciais, há toda uma mobilização social por parte dos próprios moradores quanto aos cuidados com a pesca, firmados em acordo reconhecido por sentença judicial, instruções normatizavas do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e portaria do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), mas hoje representado pelo Incra. A comunidade não usa malhadeiras, fazendo somente a pesca de forma artesanal com linha de mão.
Os moradores fazem a pesca manejada do pirarucu, única espécie que comercializam, sendo que os demais peixes servem como subsistência. Ao longo do ano, realizam a contagem das espécies. Depois de calculado, quando chega entre junho e novembro, período permitido para a pesca do pirarucu, os moradores fazem a captura e vendem à Associação de Moradores da Ilha de São Miguel que, por sua vez, realiza a revenda para restaurantes da área urbana de Santarém. Todo o valor é compartilhado entre a população e investido na comunidade.
Anualmente estima-se que sejam vendidos entre 8 a 9 mil toneladas da carne do pirarucu. É a Ilha de São Miguel, gerando renda, unindo a força da natureza com a força do homem para perpetuação dos recursos naturais da Amazônia.