A primeira exposição de artesanato confeccionado pelos indígenas da etnia Warao, realizada na tarde de domingo (29), no Rio Tapajós Shopping, pela Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Trabalho e Assistência Social (Semtras), através da Casa de Acolhimento para Adultos e Famílias (Caaf) foi elogiada pelos visitantes e atingiu o objetivo de levar ao conhecimento da população um pouco da cultura deste povo.
Uma tenda nas cores amarelo, azul e vermelho que lembram o local de origem dos venezuelanos, indicava a exposição. Redes, chapéus, cestos, paneiros e fotos retratando o dia a dia dos indígenas revelavam bem mais do que o artesanato. Evidenciaram a identidade de um povo que fugindo da fome chegou em Santarém em 28 de setembro de 2017. Já passaram pela cidade mais de 250 indígenas. Atualmente, 96 são acolhidos pela Prefeitura, por meio da Semtras, através da Caaf.
As peças expostas foram todas produzidas manualmente sem o auxílio de nenhuma agulha ou máquina. A maior parte foi confeccionada com matéria prima extraída da palmeira do Buriti. Neste caso, algumas peças são utilizadas in natura na confecção do artesanato e outras passam pelo processo de cozimento e secagem ao sol para que fiquem com um toque mais macio. Também utilizam linha de tricô rayontex nas peças coloridas e miçangas.
Segundo Nayara Lima, pedagoga da Casa de Acolhimento, em uma reunião técnica soube que os indígenas haviam tentado realizar venda ambulante de chapéus de Buriti. No entanto, por as pessoas se recusarem a pagar o preço justo, eram submetidos a vender muito abaixo do valor pela necessidade do dinheiro, ainda que com isto a arte fosse desvalorizada.
"Em outra reunião, buscando solução para a situação de mendicância, perguntamos a uma das indígenas presentes porque ao invés de "coletar" ela não buscava vender o artesanato? A mesma foi incisiva em dizer que as pessoas não compram. A única alternativa de garantir sustento era a coleta nas ruas", comentou Nayara.
A pedagoga afirmou então que a equipe de acolhimento buscou na exposição a alternativa de solucionar o problema. Método que possibilitou não somente a venda dos produtos mas também o despertar da sensibilização das pessoas perante as razões pelo qual são confeccionados.
"Sabemos que os mesmos são taxados de preguiçosos ou aproveitadores, mas não é isto que vemos no cotidiano do abrigo. Ás vezes nós como sociedade alimentamos determinados comportamentos. É de fundamental importância nos propor a dar opções de trabalho para eles. Estas pessoas querem desenvolver uma vida de respeito, com trabalho, educação, saúde e precisamos apoiar", observou a pedagoga.
A arqueóloga Cintia Moreira aprovou a iniciativa da Prefeitura e comprou uma peça da exposição. "É muito interessante saber que acontece esse trabalho de acolhida porque nós sabemos da situação que eles passaram. Estão vindo para essa região do Brasil e chegaram em Santarém, onde existe uma diferença cultural. Essa adaptação sempre é muito difícil, então o trabalho de acolhimento buscando entender todo o processo cultural é sempre muito importante", observou.
Geraldo Dias, indigenista da Funai, esteve prestigiando a exposição e avaliou positivamente o momento. "É uma iniciativa importante para essa etnia. Uma população com quase 100 indivíduos, cidadãos que estão destituídos do seu próprio país. Dar visibilidade a cultura dos Warao, mostrar o trabalho que fazem e incentivar essa produção artística, que é muito bonita por sinal, é uma atitude excelente para o município, além de possibilitar a geração de renda para os indígenas", ressaltou Dias.
"A ideia da exposição foi dar visibilidade ao trabalho artesanal produzido por eles com tanta dedicação e excelência, fomentando a atividade no município. Eles necessitam dessa renda para poder andar com suas próprias pernas. Se podemos ajudar, vamos. Através de parcerias como esta do shopping para levarmos ao conhecimento de todos o trabalho deles", garantiu Juliana Fialho, coordenadora da Casa de Acolhimento para Adultos e Famílias.
"Gostaríamos de ter realizado esse trabalho há mais tempo, mas eles precisavam de um acolhimento mais emergencial. O município está aberto a parcerias para podermos ajudar essas famílias que buscam uma forma de seguir suas vidas. A arte foi exposta e conhecida pelas pessoas que puderam levar para casa algumas peças que comprovam a riqueza de detalhes do trabalho deles. Agradeço ao Rio Tapajós Shopping pela parceria e a todos da Casa de Acolhimento", ressaltou Celsa Brito, Secretária Municipal de Trabalho e Assistência Social.
A equipe de jornalistas do Canal Saúde, do Rio de janeiro, que estão realizando filmagens na cidade sobre o acolhimento aos indígenas venezuelanos, acompanhou a exposição.
A exposição irá continuar em mais dois locais. No dia 4 de maio as peças serão expostas no Mercadão 2000, de 8h ás 14h, e no dia 11 do mesmo mês, será na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Campus Boulevard, no espaço Muiraquitã, de 14h ás 18h.