No primeiro quadrimestre de 2025, cerca de 950 turistas visitaram a comunidade Coroca, situada no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Lago Grande, em Santarém (PA). Um dos visitantes foi o ator Marcos Palmeira que se encantou com os atrativos locais, como o meliponário (espaço dedicado à criação de abelhas nativas sem ferrão), a trilha ecológica, o Lago das Tartarugas, o restaurante comunitário e o artesanato tradicional feito com folhas do tucumanzeiro. Esse trabalho tem o reconhecimento da Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Semtur), que apoia iniciativas sustentáveis e de protagonismo comunitário.
A Coroca vem se consolidando como referência em turismo de base comunitária em Santarém, modelo em que os próprios membros moradores organizam e conduzem as atividades turísticas, proporcionando vivências incríveis e imersivas da cultura local. Com isso, a economia gira dentro comunidade, o conhecimento tradicional é valorizado e o meio ambiente, preservado.
“Este modelo valoriza a cultura, impulsiona a economia das 23 famílias da comunidade Coroca, que somam cerca de 70 pessoas, e contribui para a preservação ambiental. A comunidade exemplifica como o turismo pode ser uma ferramenta de desenvolvimento, gerando renda de maneira sustentável, com respeito ao território e à natureza. A Semtur apoia iniciativas como essa, que fortalecem o protagonismo comunitário e oferecem experiências paradisíacas aos visitantes,” destaca o titular do Turismo de Santarém, Emanuel Júlio Leite.
Luziete Correia, moradora da Coroca, relembra com emoção o início da caminhada.
“O turismo de base comunitária foi uma saída para nós. Começou na década de 90 com a chegada do padre alemão José Gröis, que atuou por 14 anos na nossa área pastoral. Foi ele quem nos incentivou a trabalhar com a criação e preservação das tartarugas-da-Amazônia. Naquela época, também começamos a trabalhar com apicultura, e só em 2005 passamos à meliponicultura. Logo depois, formamos um grupo para resgatar e fortalecer o artesanato tradicional, um saber que vem sendo passado de geração em geração. Em 2006, conseguimos fundar a associação de trançado do Arapiuns, A. ARTA".
Ela reforça que o impacto dessas ações vai além da renda. “A importância para a comunidade é de um grande valor ancestral. Hoje, 100% da renda das famílias vem desse modelo sustentável, com os três pilares que mantemos: criação de quelônios, meliponicultura e artesanato. É gratificante saber que cuidamos da natureza e, ao mesmo tempo, preservamos nossa identidade sem agredir o meio ambiente. Isso tem muito valor para todos nós comunitários.”
Roteiro turístico pela comunidade Coroca
A experiência turística tem início com uma trilha ecológica que leva ao meliponário, onde abelhas sem ferrão, como a jandaíra, produzem um mel suave e totalmente artesanal.
Alimentadas pelo néctar de árvores nativas, essas abelhas exercem um papel fundamental na polinização e na preservação do ecossistema. Somente entre janeiro e abril de 2025, a comunidade arrecadou R$ 42.101,00 com a venda de mel e produtos derivados, como licor, mel com pimenta, sabonetes e cosméticos naturais.
A Galeria Aripó – Trançados do Arapiuns é parada obrigatória para quem valoriza a arte amazônica. O espaço reúne peças feitas com palha do “tucumanzeiro”, fibra extraída de forma sustentável da palmeira tucumã. Após a colheita, o material passa por secagem, tingimento com pigmentos naturais e trançado manual, resultando em objetos únicos, como cestos, abanos, bolsas, bandejas, balaios e porta-joias, com grafismos que remetem à ancestralidade.
Produzidas por artesãos de oito comunidades ribeirinhas do rio Arapiuns: São Miguel, Nova Cidade, Tucumã, Nova Pedreira, Vista Alegre, Vila Gorete, Vila Brasil e Coroca. As peças representam uma importante fonte de renda para dezenas de famílias e ajudam a preservar saberes tradicionais. Os visitantes podem acompanhar parte do processo de confecção e adquirir os produtos diretamente no local. Somente entre janeiro e abril de 2025, a galeria movimentou R$ 136.105,00 em vendas.
Do outro lado da praia está o Lago Coroca, também chamado de Lago das Tartarugas, em referência ao projeto de conservação desenvolvido pela comunidade em parceria com o Ibama. Os viajantes podem visitar o berçário e o lago onde as espécies se reproduzem. A iniciativa tem como foco a proteção dos quelônios, tartaruga-da-Amazônia, espécie que já esteve ameaçada de extinção. Os próprios moradores monitoram os ninhos e acompanham o crescimento dos filhotes até o momento da soltura na natureza.
A soltura das quelônios acontece anualmente no segundo sábado de fevereiro e se tornou um dos momentos mais aguardados pelos visitantes. Em 2025, mais de 2.000 filhotes foram devolvidos ao ambiente natural, em uma ação que combina conscientização ambiental, protagonismo comunitário e turismo sustentável.
A vivência ribeirinha é completada com uma parada no Restaurante Pés na Areia, que recebe os visitantes com pratos simples e saborosos, preparados com ingredientes locais, como peixe fresco e galinhada. A estrutura respeita o ritmo da comunidade, reforçando a proposta de um turismo autêntico.
A comunidade Coroca pode ser visitada durante todo o ano, oferecendo vivências únicas em qualquer estação. O melhor período para quem busca praias e banhos de rio é o verão amazônico, entre julho e dezembro, quando o nível das águas baixa e revela paisagens ainda mais encantadoras. Para aproveitar melhor, recomenda-se o uso de roupas leves, chapéu e protetor solar.
Como chegar à comunidade Coroca:
• Alter do Chão – A Associação de Turismo Fluvial de Alter do Chão (Atufa) organiza passeios em lanchas rápidas, com saída às 9h e retorno no fim da tarde. O trajeto, que dura de 6 a 7 horas, inclui paradas em atrativos como Ponta do Icuxí, Ponta Grande e Ponta do Cururu.
Quem prefere seguir direto para a comunidade Coroca pode optar por um frete particular, com tempo estimado de 1h30 de viagem. Os lancheiros que oferecem o serviço ficam concentrados em frente à praia de Alter do Chão.
• Mercadão 2000 – Também há a opção dos barcos de linha que seguem direto até Coroca, com duração aproximada de 4 horas.
Mais Imagens: