Entre janeiro e agosto de 2025, Santarém registrou 258 casos de tuberculose, dos quais 75 foram notificados no Hospital Municipal Dr. Alberto Tolentino Sotelo (HMS) e na UPA 24h, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde. Os números locais seguem a tendência nacional. De acordo com o Boletim Epidemiológico de Tuberculose 2025, do Ministério da Saúde, o Brasil notificou em 2024 um total de 84.308 novos casos, o que corresponde a uma taxa de incidência de 39,7 para cada 100 mil habitantes. No mesmo período, foram registrados 6.025 óbitos em 2023, representando um coeficiente de mortalidade de 2,8 por 100 mil. O levantamento nacional evidencia que a doença atinge com maior frequência homens (68,2%), pessoas pretas ou pardas (65,8%) e adultos jovens, especialmente na faixa de 20 a 34 anos.
A coinfecção tuberculose-HIV segue como um desafio relevante, presente em 11,4% dos novos diagnósticos em 2024. No recorte estadual, o Pará apresentou coeficiente de 61,8 casos por 100 mil habitantes, situando-se entre os estados com maiores taxas de incidência.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022 mais de 10,6 milhões de pessoas adoeceram por tuberculose e 1,1 milhão morreram da doença, incluindo 167 mil pessoas vivendo com HIV. No mesmo ano, todos os dias, mais de 4 mil pessoas morreram e cerca de 30 mil adoeceram em razão da doença.
O infectologista do HMS, Dr. Alisson Brandão, explica que a tuberculose é uma doença milenar, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis.
“Cerca de 85% dos casos atingem os pulmões, o que chamamos de tuberculose pulmonar, mas a doença também pode comprometer outros órgãos, como olhos, rins e ossos”, detalhou.
Segundo ele, a forma de transmissão é um dos fatores que mais exige atenção. “A bactéria se espalha pelo ar, por meio de aerossóis expelidos quando a pessoa infectada tosse, fala ou espirra. Essas partículas ficam suspensas e circulam no ambiente, especialmente em locais fechados, pouco ventilados e com baixa luminosidade. É por isso que o risco de transmissão aumenta nessas condições”, afirmou.
Sintomas e sinais de alerta
Os sintomas mais característicos são tosse persistente por mais de três semanas, que pode ser seca ou com catarro, associada a febre baixa no final do dia, suor noturno e perda de peso sem causa aparente.
“Muitas vezes o paciente começa a emagrecer mesmo sem fazer dieta ou exercício. Esse é um sinal importante para procurar a Unidade Básica de Saúde e investigar”, explicou o infectologista.
Dr. Alisson reforça ainda que a maior parte dos casos pode ser tratada sem necessidade de internação.
“A tuberculose, na grande maioria das vezes, é tratada em nível ambulatorial, com um esquema específico fornecido pelo Ministério da Saúde. Apenas situações que evoluem com gravidade, complicações ou em pacientes que apresentam outras comorbidades exigem internação hospitalar”, acrescentou.
Prevenção e ações no município
No enfrentamento à doença, as equipes da Atenção Primária em Saúde (APS) intensificaram as visitas domiciliares, as atividades educativas nas escolas e a busca ativa de pessoas com sintomas respiratórios. Nas Unidades Básicas de Saúde, a vacina BCG — aplicada preferencialmente nas primeiras 12 horas de vida, mas disponível até os 4 anos, 11 meses e 29 dias — é ofertada conforme cronograma e protege contra as formas mais graves da doença, como a meníngea e a miliar.
Além disso, em 2025, o município, com apoio do Estado, promoveu um seminário alusivo ao Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose, capacitações para médicos e enfermeiros da APS sobre diagnóstico e tratamento, ministradas por um infectologista, e reuniões de alinhamento entre a Semsa e a equipe de Epidemiologia do HMS para reforçar notificações, fluxo de medicações e acompanhamento dos casos. Todas as confirmações são registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), garantindo a consolidação dos dados no âmbito municipal, estadual e nacional.
A enfermeira referência técnica do Programa de Tuberculose do Município, Kelen Patrícia Carvalho, destaca que a proximidade com a população é decisiva. Segundo ela, as equipes estão presentes no dia a dia das comunidades, “orientando sobre os sintomas, identificando precocemente os casos, acompanhando os pacientes em tratamento e reforçando o cuidado com os contatos domiciliares — pessoas que convivem diretamente com o paciente — para que recebam a devida avaliação e acompanhamento. Esse trabalho é fundamental para garantir a adesão ao tratamento e evitar novas transmissões”, destacou.
A secretária municipal de Saúde adjunta, Irlaine Figueira, reforça o papel do SUS. “O tratamento da tuberculose é gratuito e está disponível em todas as unidades de saúde. Os medicamentos são fornecidos pelo Ministério da Saúde, e nossas equipes acompanham cada paciente até a conclusão do tratamento, garantindo qualidade de vida e mais saúde para a população”, afirmou.
Orientação à população
O HMS orienta que qualquer pessoa com sintomas suspeitos procure imediatamente a Unidade Básica de Saúde mais próxima. O diagnóstico é rápido, o tratamento é gratuito e a cura é possível.
“Quando o paciente inicia corretamente o esquema medicamentoso, ele não só melhora sua própria saúde, como também interrompe a transmissão da doença, protegendo familiares e toda a comunidade”, concluiu Dr. Alisson Brandão.