A Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Cultura (Semc), realizou nesta quinta-feira (13) o II Sarau Afro Ancestral, uma programação gratuita que ocupou a área externa da Casa da Cultura e as dependências da Biblioteca Municipal Paulo Rodrigues dos Santos, das 15h às 21h, em celebração ao Mês da Consciência Negra.

O evento reuniu artistas, poetas, mestres e mestras da cultura popular, lideranças quilombolas, realizadores audiovisuais, grupos tradicionais e a comunidade em geral, em uma tarde-noite dedicada ao diálogo, à espiritualidade, ao afeto coletivo e à afirmação das identidades negras do Baixo Amazonas.
A programação iniciou com o Cine Quilombo Especial, exibindo filmes e documentários produzidos por artistas locais que retratam a presença negra e quilombola na região. As obras foram seguidas de uma roda de conversa com professores, estudantes e lideranças comunitárias, criando um espaço de troca sobre memória, território e resistência.
À noite, o Terreiro da Cultura — espaço externo da Casa da Cultura transformado simbolicamente em quintal ancestral — recebeu batuques, poesias, performances e cânticos que exaltaram a espiritualidade afro-amazônica.

Para a secretária municipal de Cultura, Priscila Castro, o sarau reafirma o compromisso da gestão com a valorização das culturas de matriz africana:
“O Sarau Afro Ancestral é um espaço de reconhecimento e respeito. É a celebração de saberes que construíram Santarém e continuam vivos nos terreiros, nos quilombos, nas famílias e nas artes. Valorizamos, como política pública, aquilo que há séculos sustenta a nossa identidade e nossa força coletiva.”
Para Francisco Vera Paz, coordenador de eventos da Semc, o sarau simboliza a consolidação de um espaço de encontro e pertencimento:
“O grande objetivo do sarau é mostrar que existe a cultura afro-santarena e afirmar esse valor cultural. Afirmar a identidade de todo um povo que está produzindo arte, conhecimento e memória aqui no Baixo Tapajós. Esse Sarau Afro Ancestral cria, literalmente, um terreiro da cultura, um espaço de confraternização e de comunidade. É isso que buscamos fortalecer nesta segunda edição e nas próximas.”
A programação foi pensada como um caminho entre memória, presente e futuro, conceito reforçado por Anderson Pereira, da Divisão de Patrimônio Histórico da Semc:
“A programação começou com filmes sobre a temática quilombola e negra, produzidos por artistas locais. Depois, conectamos isso à prática viva da ancestralidade nos terreiros e comunidades. Tudo foi amarrado pelo tema ‘resistência e memória’. Mostramos que o passado existe, mas também pulsa hoje nos quilombos, nos terreiros, na afro-religiosidade e na cultura que se vive e se transforma.”
Representando a Federação das Organizações Quilombolas de Santarém (FOQS), Marluce Coelho destacou a importância do sarau como instrumento de reflexão e afirmação:
“A Prefeitura está internalizando um processo de difusão da ancestralidade a partir do olhar quilombola e das matrizes africanas. É um momento importante para refletirmos que Santarém tem uma grande população preta e que precisamos falar de racismo o ano inteiro. Esses vídeos, documentários e vivências fortalecem nossa resistência e ajudam a defender nossos territórios. Estar aqui é reafirmar nossa ancestralidade e quebrar preconceitos dentro do município.”
Marluce lembrou que a FOQS representa 14 territórios quilombolas e atua desde 2006 na construção de políticas públicas voltadas às comunidades.

O evento também abriu espaço para a religiosidade tradicional, reafirmando o respeito às expressões afro-brasileiras. O líder religioso Pai Clodomilson, há 37 anos à frente de seu terreiro no bairro Ipanema, enfatizou a importância da valorização dos povos tradicionais:
“Aqui é cultura e também religiosidade. Trazer os povos tradicionais para esse terreiro da cultura é fundamental. O preconceito religioso ainda é grande, e momentos como esse mostram a força das ervas, da natureza, da espiritualidade. Somos povos tradicionais que cultuam a vida. Podem contar com nosso apoio.”
O II Sarau Afro Ancestral mostra-se, mais uma vez, como um marco no calendário cultural de Santarém, reafirmando a diversidade como força, a cultura negra como patrimônio e a ancestralidade como caminho para o futuro.
Autor:
Caio Lobato