O legado de Dona Maxica: o saber das mães que sustentam gerações com os trançados de tucumã

Ensinar, preservar tradições e transmitir valores de geração em geração são algumas das formas mais belas de viver a maternidade. Neste dia das Mães, 11 de maio, a Prefeitura de Santarém, por meio da Secretaria Municipal de Turismo (Semtur), presta homenagem a Dona Maximiana da Conceição , conhecida como Dona Maxica. Aos 87 anos, ela é a artesã mais antiga da região do rio Arapiuns e referência na preservação dos trançados de tucumã, uma prática ancestral, que fortalece a economia local por meio do turismo de base comunitária, mantendo viva a identidade cultural dos ribeirinhos.

Ao chegar à casa da mestra Maxica, na comunidade Tucumã, o ambiente revela uma forte conexão entre natureza, afeto e memória. No chão, folhas secas do tucumanzeiro anunciam o trabalho artesanal, que tem na coleta da matéria-prima o primeiro passo. Na varanda, ela se senta todos os dias para trabalhar com as fibras naturais, movendo as mãos com a sabedoria de quem conecta passado e presente. Ao redor, o filho, a neta e as bisnetas também trançam, em um gesto coletivo que mantém viva a tradição e fortalece os laços familiares.

Esse legado se manifesta em cada peça confeccionada. Cestos, bolsas e porta-copos são produzidos com palha de tucumã e tingidos com pigmentos naturais extraídos de plantas como jenipapo e urucum. Os grafismos estampados representam elementos da floresta e da memória dos povos tradicionais. Além de encantarem visitantes, esses artefatos geram renda para diversas famílias e consolidam o turismo de base comunitária como alternativa sustentável na região.

Dona Maxica, com a fala mansa e o ouvido já um pouco cansado pelo tempo, conta que aprendeu a trançar o artesanato de tucumã com os pais e que segue mantendo viva essa tradição.

“Eu amo fazer trançado. Nem lembro quando comecei a fazer. Nem lembro a idade que eu tenho. Mas desde que me entendo por gente, eu faço trançado. E a gente ainda ganha um dinheirinho, uma renda com isso, então é muito bom. Eu que ensinei todas as outras artesãs daqui a fazerem os artesanatos. Eu também ensinei os meu filhos e eles vão ensinar os filhos deles."

Para Raimundo Marçal da Conceição, filho de Dona Maxica, a arte do trançado é mais do que um trabalho manual, é uma herança de vida.

“Minha mãe vai completar 88 anos em junho e, até hoje, ela continua firme no ofício. Ela me ensinou o artesanato desde que eu era pequeno, e com isso consegui conquistar minhas coisas. Faço parte do grupo de artesanato e teço para a loja da comunidade. Só tenho a agradecer a ela por tudo que me ensinou. A renda de toda nossa família vem do artesanato.”

Elielma Silva da Conceição, neta de Dona Maxica, também destaca com orgulho o papel da avó na continuidade da cultura familiar.

“Aprendi a fazer artesanato com 13 anos, quando minha mãe me ensinou. Hoje, ensino minhas filhas, que têm 10 e 13 anos. Isso é muito importante, pois garante nossa renda e mantém nossa tradição.”

O reconhecimento à trajetória de Dona Maxica é reforçado pelo secretário municipal de Turismo, Emanuel Júlio Leite.

“A trajetória de Dona Maxica reflete a realidade de muitas mulheres do Arapiuns, que transformam a arte em meio de sustento. Aqui na comunidade do Tucumã, todas as artesãs aprenderam com ela. Ao observar os objetos em exposição, percebemos o cuidado e o amor colocados em cada peça. Dona Maxica conseguiu transmitir tudo isso com muita sensibilidade à sua comunidade.”

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